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Que é ser socialista?

Eis alguns trechos extraídos de uma das obras literárias do, senão o maior, um dos maiores filósofos brasileiros - Olavo de Carvalho.
Chamo a atenção, para aquilo que o próprio autor reiteradamente ressalta em seus debates e paletras, de nunca tentarmos intrepretar um pensamento e/ou contexto de uma obra, a partir de informações resumidas e/ou superficiais. É preciso vencer a preguiça e a ânsia de querer opinar sobre algo, sem se aprofundar e esgotar a busca pelo conhecimento sobre as informações existentes.

Este artigo foi publicado no Jornal da Tarde, São Paulo, em 28 de outubro de 1999

O ideal socialista é, em essência, a atenuação ou eliminação das diferenças de poder econômico por meio do poder político. Mas ninguém pode arbitrar eficazmente diferenças entre o mais poderoso e o menos poderoso sem ser mais poderoso que ambos: o socialismo tem de concentrar um poder capaz não apenas de ser impor aos pobres, mas de enfrentar vitoriosamente o conjunto de ricos. Não lhe é possível, portanto, nivelar as diferenças de poder econômico sem criar desníveis ainda maiores de poder político. E como a estrutura do poder político não se sustenta no ar mas custa dinheiro, não se vê como o poder político poderia subjugar o poder econômico sem absorvê-lo em si, tomando as riquezas dos ricos e administrando-a diretamente. Daí que no socialismo, exatamente ao contrário do que se passa no capitalismo, não haja diferença entre o poder político e o domínio sobre as riquezas: quanto mais alta a posição de um indivíduo e de um grupo na hierarquia política, mais riqueza estará à sua inteira e direta mercê: não haverá classe mais rica do que os governantes.(pág. 119)

Logo, os desníveis econômicos não apenas terão aumentado necessáriamente, mas, consolidados pela unidade de poder político e econômico, terão se tornado imposssíveis de eliminar exceto pela destruição completa do sistema socialista. E mesmo esta destruição já não resolverá o problema, porque, não havendo classe rica fora da nomenklatura, esta última conservará o poder econômico em suas mãos, simplesmente trocando de legitimação jurídica e autodenominando-se, agora, classe burguesa. A experiência socialista, quando não se congela na oligarquia burocratica, dissolve-se em capitalismo selvagem.
Tertium non datur. O socialismo consiste na promessa de obter um resultado pelos meios que produzem necessariamente o resultado inverso. 
[...] É humanamente burro insistir em aprender com a experiência própria, quando fomos dotados de raciocínio lógico justamente para poder reduzir  a quantidade de experiência necessária ao aprendizado.
[...] Nenhum ser humano intelectualmente são tem o direito de apegar-se tão obstinadamente a uma ideia a ponto de exigir que a humanidade sacrifique, no altar das suas promessas, não apenas a inteligência racional mas o próprio instinto de sobrevivência. (pág. 120)

DICIONÁRIO:
tertium non datur - Não existe um terceiro (caso), isto é, só existe opção entre duas coisas opostas.

No mínimo interessante, o raciocínio do autor sobre o socialismo, ele vai direto ao cerne da questão, que é a condição necessária para "arbitrar as diferenças". Ou seja, tudo acaba na hierarquização do poder: sobre um poder maior e um menor, deve haver o poder supremo, e isto por si-só provoca resultados inversos dos objetivados. 

Fonte: CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.
SEBASTIAO
Enviado por SEBASTIAO em 22/09/2017
Alterado em 07/10/2017


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