Textos

Pobreza e grossura

Eis alguns trechos extraídos de uma das obras literárias do, senão o maior, um dos maiores filósofos brasileiros - Olavo de Carvalho.
Chamo a atenção, para aquilo que o próprio autor reiteradamente ressalta em seus debates e paletras, de nunca tentarmos intrepretar um pensamento e/ou contexto de uma obra, a partir de informações resumidas e/ou superficiais. É preciso vencer a preguiça e a ânsia de querer opinar sobre algo, sem se aprofundar e esgotar a busca pelo conhecimento sobre as informações existentes.

Este artigo foi publicado no Bravo, em julho de 2000
Um indício seguro de barbarismo num povo é a atenção excessiva concedida aos sinais convencionais de boa educação e o desprezo ou a ignorância dos princípios básicos da convivência que constituem a essência mesma da boa educação.
Quanto mais respeitoso, mais cuidadoso, mais escrupuloso cada um não deveria ser então com um amigo que, vencendo a natural resistência de mostrar inferioridade, vem lhe pedir ajuda! Esta regra elementar é sistematicamente ignorada entre as nossas classes médias e altas, principalmente por aquelas pessoas que se imaginam as mais cultas, as mais civilizadas e - valha-me Deus! - as mais amigas dos pobres. (pág.79)

Fico horrorizado quando vejo alguém enxotar um flanelinha como se fosse um cachorro, e nunca vi alguém fazê-lo com a desenvoltura
aplomb, [...]
Ainda há quem diga: "Mas se você dá dinheiro o sujeito vai beber na primeira esquina!" Pois que beba! Tão logo o embolsou, o dinheiro é dele. Vocês querem educar o pobre "para cidadania" e começam por lhe negar o direito de gastar o próprio dinheiro como bem entenda? Querem educá-lo sem primeiro respeitá-lo como um cidadão livre que, atormentado pela miséria, tem o direito de encher a cara tanto quanto o faria,
mutatis mutandis, um banqueiro falido? Querem educá-lo impingindo-lhe a mentira humilhante de que sua pobreza é uma espécie de menoridade, inferioridade biológica que o incapacita para administrar os três ou quatro reais que lhe deram de esmola? Não! Se querem educá-lo, comecem pelo mais óbvio: sejam educados. Digam "senhor", "senhora", perguntem onde mora, se o dinheiro que lhes deram basta para chegar lá, se precisa de um sanduíche, de um remédio, de uma amizade. Façam isso todos os dias e, em três meses, verão esse homem, essa mulher, erguer-se da condição miserável, endireitar a espinha,  lutar por um emprego, vencer. (pág. 80 - 81)

[...] No mais das vezes, o que falta não é comida, não é dinheiro: é as pessoas compreenderem que a probreza não é um estigma, não é uma desonra; é uma coisa que pode acontecer a qualquer um e da qual ninguém se liberta só com dinheiro, sem esforço psicológico de um ambiente que o ajude a sentir-se novamente normal e, em suma, um membro da espécie humana.
Entre as causas culturais da pobreza, a principal não está nos pobres: está na falta de educação dos outros. (pág. 82)

DICIONÁRIO:
Aplomb - Aprumo, equilíbrio.
Mutatis mutandis - Alterando o que precisa ser mudado.

Temos uma forte tendência a generalizar tudo o que vimos e ouvimos. Conheço pessoas que estigmatizam os mendigos a partir de fatos isolados, que as vezes nem presenciaram, simplesmente ouviram. Essas pessoas, ao julgarem que determinado mendigo não passa de um oportunista, todos os demais também farão parte do repertório.
O médico e escritor Augusto Cury, no livro -  "O Vendedor de Sonhos", chamou a atenção e nos obrigou a refletir a respeito desses Seres Humanos, marginalizados pela sociedade. Não sabemos e não buscamos saber a história dessas pessoas, suas conquistas, seus sonhos, suas desilusões. Simplesmente assumimos a postura moralista, e  incorporamos o papel de Juízes, condenando sem direito a defesa os famintos, os sedentos, mas não de comida e/ou água, e sim, de afeto, de respeito, de compaixão. Lembremos que cada um dá aquilo que possui em abundância, consequentemente ninguém pode dar o que não possui. Isso vale para o afeto, o respeito,  a educação, a compaixão e o amor ao próximo.  
Fonte: CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. 8ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2014.
SEBASTIAO
Enviado por SEBASTIAO em 18/09/2017
Alterado em 07/10/2017


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